O cozinheiro
sábado, julho 19, 2003
  Outro daiquiri

O maestro Francisco balança as ancas e sacode as maracas ao ritmo do Oriente que invade o Parque Céspedes, a praça central de Santiago de Cuba, a partir do bar-terraço do Hotel Casa Granda - um belo edifício de 1914 que ostenta quatro arrogantes estrelas e pertence a uma multinacional francesa.

Com as maracas agora suspensas nas pontas de um cordel que traz ao pescoço, Francisco Ulloa, de 60 e poucos anos, comanda a sua orquestra - o Piquete Santiaguero. E já o faz há uns vinte e tal anos pelos parques, clubes e hotéis da cidade. Ulloa aniquila tudo o que possa ser descontentamento em relação ao hotel. A música do trompetista, maestro, compositor, arranjador é mágica. Tem muitos instrumentos de sopro, uns quantos de cordas, um contrabaixo e percursão, muita percursão. As violas não aparecem. Também não há vozes - só o riso das crianças que brincam em frente no Parque Céspedes, os cães que ladram e um ou outro carro que buzina.

Santiago é tida como a mais caribenha das cidades cubanas, a mais negra. Foi aqui que desembarcaram os primeiros escravos da África ocidental. Isso tem reflexos directos na música e Ulloa é exímio na sua arte.

A sua Guatanamera é uma preciosidade de jazz afro-cubano. Mas Ulloa tem também originais. Muitos. A música dele enfeitiça, leva-nos, guia-nos até à alma santiaguera, sobretudo se acompanhada por um delicioso daiquiri dos que ali são servidos.

Estes não levam gelo pulverizado. Os ingredientes são colocados dentro de um shaker:

o sumo de lima, o rum, o açúcar e dois cubos de gelo. Agita-se tudo muito bem na coctelera. Escoa-se o líquido fresco (sem o gelo) para dentro de taças de cocktail e serve-se acompanhado com a música de Francisco Ulloa.

Não me lembro de alguma vez ter bebido outro daiquiri igual. Se Hemingway achava que o melhor do mundo era o do Floridita, foi por que não provou este para o deixar pelo menos na dúvida.

Em Cuba tropeça-se em.tantas maneiras de fazer o daiquiri como nas de tocar a Guatanamera. Garanto que a de Ulloa foi a melhor que alguma vez ouvi.

 

Mais sobre o maestro Francisco Ulloa

 
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